30.4.11

Certo X Incerto.....

A imagem de um muro. Em cima dele estou eu, pensando se desço o muro do lado conhecido, mais seguro, ou se pulo o muro rumo ao desconhecido, ao incerto.....ao horizonte ilimitado.
Sinto medo e ausência de medo. E é a segunda opção que mais me assusta....

Uma amiga me mandou um texto que ela escreveu  quando fez 29 anos e muitas coisas são parecidas com o que sinto hoje....pra quem acredita, 29 anos é o famoso retorno a saturno. É o tempo que saturno leva para dar uma volta em torno do sol. E eis que ela me enviou um link que fala sobre isso...eis alguns trechos:

"Para a Astrologia, Saturno simboliza o limite, justamente por ser o último planeta que pode ser visto a olho nu. Podemos compreender o retorno de Saturno como sendo aquele momento em que tomamos consciência de nossas limitações, daquilo que podemos ou não podemos fazer.(...)Astrologicamente falando, é quando nos tornamos efetivamente adultos. Antes do retorno de Saturno, a maioria de nós costuma ter a ilusão de tudo poder. Fantasiamos que somos livres de uma forma irreal. Entre a idade de 28 e 30 anos, "a ficha cai". Nos livramos de muitos supérfluos, mantendo em nossas existências apenas aquilo que tem funcionalidade e permite nosso desenvolvimento(..)
(...)vivenciar esta crise pode ser a forma de resolver as carências que você acumulou ao longo da existência. Se o retorno de Saturno será "bom" ou "ruim", isso não importa tanto, pois o sentimento associado a este ciclo é apenas a resultante de nossos movimentos passados, e a vida em geral não acaba aos 29 anos. Na verdade, sob uma perspectiva saturnina, é aí que ela realmente começa! Uma nova oportunidade se reconfigura, e seja lá o que você tiver vivido em seu passado, depois do retorno de Saturno um novo mundo se descortina, oferecendo a você a chance de ser mais senhor(a) de sua própria vida. De uma forma bem direta, você descobrirá que o que você viveu até antes dos 30 anos não passou de mero ensaio da vida, e na medida em que você amadurecer perceberá como todos os dramas e dores de antes dos 29 anos lhe parecerão tolos e infantis. Passado o ensaio da vida, eis que o espetáculo começa! O importante é que você lembre: este é o primeiro ano do resto da sua existência. Faça valer!"

Acreditando ou não, não há como negar que o sentimento predominante é bem isso aí....Os textos que até aqui escrevi mostram um pouco esses sentimentos...

27.4.11

O recomeço

Tudo nessa vida tem seu fim certo. Nada permanece igual. Tudo se movimenta, se transforma. Tudo acaba. A vida terá fim. Os sentimentos mudam. Os filhos crescem. O amor se transforma e também pode acabar. Os amigos se mudam. Perdemos a convivência. Olhamos no espelho e não reconhecemos mais muita coisa que fomos. Apesar de nostálgica, a mudança faz-se necessária para a vida ser mais interessante. É uma oportunidade de ser mais feliz. Vez ou outra lamentamos as mudanças, os fins. Mas é certo que encerrar coisas faz parte da vida e, dessa forma, se tivermos entendimento, uma não resistência, o sofrimento que as dores das perdas nos traz pode ser menor, mais contido. Todo fim é uma oportunidade para um recomeço. A tristeza faz parte, é inevitável mesmo, só não pode durar muito tempo porque, como eu já disse inúmeras vezes aqui, a vida passa muito depressa. Conseguir aprender com os erros, entender os erros, faz parte do processo de conhecimento próprio. Enfim, depois de mil sensos comuns, porém verdadeiros, é melhor permitir-me entristecer e esperar. Pois o tempo - outro senso comum - ah, o tempo cura tudo!


18.4.11

Nada fica


Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

Ricardo Reis, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

15.4.11

Como comentei esses dias, adoro ler as coisas que minhas amigas escrevem. Olha só  o que uma delas postou. Que bonito e verdadeiro. Concordo com tudo o que foi dito logo abaixo:
“O inferno dos vivos não é algo por vir; há um, o que já existe aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que formamos estando juntos. Há duas maneiras de não sofrê-lo.
A primeira é fácil para muitos: aceitar o inferno e formar parte dele até o ponto de deixar de vê-lo.
A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuos: buscar e saber quem e o quê, em meio ao inferno, não é inferno, e fazer com que dure, e deixar-lhe espaço.”
Italo Calvino
Lágrimas ocultas Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca
(1894-1930)

13.4.11

Palavras, abraços, sorrisos e beijos

Palavra é algo tão importante porque pode aproximar ou afastar. Faz toda a diferença nesse mundo!  O silêncio - a ausência da palavra - comunica muita coisa! O silêncio pode doer mais que uma palavra dita. Mas também uma palavra pode confortar, amparar mais que um abraço. Uma palavra pode ser maliciosa, pornográfica, cheia de más intenções. E o resultado disso pode ser bom. Ao contrário, uma palavra pode afastar, pode destruir um sentimento, um amor.  A palavra é o conta gotas do amor. E pode estar cheinho de palavras venenosas ou de palavras amorosas. Eu adoro abraço. Mas não consigo deixar de pensar que  palavras são uma coisa muito poderosa. Tanto quanto um abraço silencioso e demorado, como um beijo malicioso ou um sorriso largo!


12.4.11

labirinto das palavras

Admiro o trabalho com a palavra. Adoro ler as coisas bonitas que minhas amigas escrevem. Hoje eu estou com uma vontade de escrever. Não sei bem o que nem como. Às vezes as palavras não saem simplesmente porque alguns sentimentos, em certos dias, apresentam uma resistência chatinha e relutam para ganharem contornos em palavras. Preferem tornarem-se palavras líquidas, translúcidas, salgadas. Lágrimas doloridas. E elas traduzem silenciosamente. E nessas horas eu queria ser uma Clarice Lispector, um Borges. Mas às vezes é melhor calar. Porque é frustrante perceber que o que foi escrito não comunicou aquilo que eu queria, da forma que eu queria. Às vezes as palavras ficam presas. Não conseguem libertar-se da prisão da alma. E palavra presa é palavra que causa angústia em quem as prende. É quase um parto. É necessário que saia! Mas como é difícil traduzir! Como é difícil transformar sentimentos em palavras. Talvez seja porque sentimento guardado dói menos? Será? Encará-los é uma maneira de resolvê-los. E como é bonito ler coisas bonitas...É preciso atenção e sensibilidade para se conhecer. Para perceber o mundo ao redor e o mundo interno. É preciso de tempo. Quando as palavras não se combinam verdadeiramente é melhor ouvir o silêncio.

11.4.11

ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO.

Conheci a poesia de Hilda Hilst há 5 anos.  E desde lá ela me enche de encantamento. Uma poetisa Campineira que deixou uma bela obra que vale muito a pena ser conhecida.



I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.


II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu

Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.


III
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.

A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta

Por que recusas amor e permanência?
VI
Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.
VIII
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus

Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora

E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes

Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta

Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.


IX
           “Conta-se que havia na China uma mulher
   belíssima que enlouquecia de amor todos
   os homens. Mas certa vez caiu nas
   profundezas de um lago e assustou os peixes.”


Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo

Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.

E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata

Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.


X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Desintegração
Eu tenho o coração cheio de coisas para dizer...
E a minha voz, se eu acaso falasse,
teria a força de uma revelação.

Meu espírito palpita ao ritmo desordenado e aflito
de asas prisioneiras que se dilaceraram
na arrancada impossível da libertação e da altura.

Minhas mãos tremem ainda ao contato
imaterial, sub-humano e fugitivo
de qualquer coisa além e acima deste mundo...

Adormeceu para sempre no fundo dos meus olhos
a saudade de paisagens estranhas e longínquas,
que nunca, nunca mais voltarão neste tempo e neste espaço.

Doem meus olhos. Tremem, ansiosas, as minhas mãos.
Meu espírito palpita! Tenho o coração cheio de coisas para dizer...
Eu estou vivo, Senhor! mas, em verdade, é como se estivesse morto.

Abgar Renault
(1901-1995)

8.4.11

De Paz e de Guerra

Na mão serena que num gesto de onda
Em estátua musical o ar modela.

Na mão torcida que num frio de gelo
A parede do tempo em fundos gritos risca.

Na mão de febre que num suor de chama
Em cinzas vai tornando quanto toca.

Na mão de seda que num afago de asa
Faz abrir os sonhos como fontes de água.

Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,
Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa.

José Saramago 
(1922-2010)

Fotinhas pra Mabi!!








Aceitar o Segundo Lugar Pode Ser Divertido!!

Ontem ganhei um vaso de flor de uma aluninha do sexto ano. Meu aniversário já passou há alguns dias. Mesmo assim, quando coloquei os pés na sala de aula recebi as flores da sorridente aluna. A justificativa dela: "você é minha professora preferida". Como as alunas do sétimo ano já tinham fofocado pra mim eu não perdi a oportunidade e respondi "Eu fiquei sabendo que eu sou sua SEGUNDA professora preferida" e caí na risada. Ela deu aquela risadinha sem graça e, com toda sinceridade, confirmou com a cabeçinha. Às vezes eu me divirto tanto dando aula...não importa, mesmo perdendo a medalha de ouro pra professora Ritinha de matemática, fiquei muitíssimo feliz com a delicadeza daquela aluna....

2.4.11

Da precisão dos nomes e a criatividade infantil

Por algum motivo, conversando com a Sofia ela me interrompeu e perguntou o que era vaso sanitário. Dias após a explicação, lá está ela, pensativa no seu troninho e dispara: "Mamãe, eu estou no vaso solitário". Acho que esse nome é melhor que o original. A nova definição se aplica mais precisamente ao ato que lá executamos....é ou não é?