26.7.12

Os desejos de Luna Clara e os desdesejos de Apolo Onze

A única coisa que Apolo Onze conseguia querer era querer alguma coisa.
Mais nada.
Por isso vivia no mundo da lua.
Porque achava tudo muito chato
(...)
Todos os dias o seu pensamento pensava num amanhã, mas todos os amanhãs tinham sido iguais, desde que ele tinha nascido
(...)
-Que menino estranho que tem nome de Deus Sol mas é da lua que ele gosta - comentavam
(...)
Assim que escurecia, Apolo Onze se escondia em algum canto afastado e ficava lá sozinho, olhando a lua, tentando inventar motivo para querer.
É claro que todos os dias apareciam motivos, mas ele não via.
É o problema de quem pensa na frente.
Às vezes perde alguns agoras.


 Nem sei se vai dar pra imaginar a alegria de Doravante quando a chuva ficou para trás e ele enxergou o céu de novo.
Imaginou?
Pois a lua estava doze anos, oito meses e quinze dias mais bonita naquele entardecer
Ou era ele que estava doze anos, oito meses e quinze dias mais velho e agora entendia melhor do assunto
Ou é a saudade que embeleza as coisas mesmo
A ansiedade vinha empatada com a alegria, transbordando.

E ninguém nunca acreditou, mas Madrugada era capaz de jurar que durante toda a gravidez ela sentiu muitos desejos de desejo. 
Ela assegurava que era verdade
Na primeira vez ela desejou manhãs. (sempre sofreu de insônia, a pobre da Madrugada, talvez por causa do nome, ou vice - versa)
Na segunda vez, ela teve desejos de estrelas cadentes.
Na terceira, desejou girassóis
Na quarta, apitos de trem
Na quinta gravidez, desejou conchas do mar e Apolo Dez teve que encomendar não sei quantas, todas vindas do Mar Vermelho, que mais tarde viraram enfeites do quarto da menina
Na sexta, ela sentiu desejos lancinantes de bolas de gude.
Na sétima vez, ela desejou esquilos
Na oitava, Madrugada teve desejos de desejos.
-Desejo de quê, meu amor
-De desejo
-Mas de desejo de quê?
-De desejo, apolo Dez, já disse mais de mil vezes.


10.7.12

Enxergar e conversar, será possível?

Os atores desse filme estão incríveis. Um filho com problemas sérios de socialização, o olhar diabólico de uma criança tão pequena, o desespero de uma mãe que tenta aceitar o filho porque entender ela não consegue. Uma família desestruturada porque os pais não conseguiam conversar sobre o filho. A mãe percebe o óbvio e o pai não enxerga o filho como ele é, nem acredita na esposa. Por sair de dentro da mãe, é ela quem percebe os mínimos detalhes do filho. O pai que não se esforça pode passar uma vida inteira sem se dar conta de quem é o filho e ser apunhalado pelas costas. Fiquei pensando, será que se houvesse mais diálogo e afinidades entre o casal, o destino do filho- e das pessoas que o  cercavam-  não poderia ter sido diferente?  A mente  doentia e inacessível do filho poderia ter recebido ajuda. Filme perturbador!

É PRECISO ACREDITAR PRA SE TORNAR UMA DAMA DE FERRO



De longe, ela é a minha atriz preferida. E em "A Dama de Ferro" seria desnecessário dizer que Meryl Streep está ótima interpretando Margaret Thatcher. Uma fala dela merece ser transcrita aqui:

"Cuidado com seus pensamentos, podem se tornar palavras. Cuidado com suas palavras, podem se tornar ações. Cuidado com suas ações, podem se tornar hábitos. Cuidado com seus hábitos, podem se tornar seu caráter. E cuidado com seu caráter, ele pode se tornar seu destino. Nós nos tornamos o que pensamos."

Numa conversa com uma amiga hoje, falamos demoradamente sobre essa ideia. A vida que quero daqui pra frente depende muito dos meus pensamentos hoje. O que tenho pensado pra mim? Como tenho alimentado minhas ideias? Onde quero estar em um futuro próximo? Acreditar é o primeiro passo pra se conquistar o que se quer, para ser quem se quer ser. 

9.7.12

Quando uma criança menos merece é quando ela mais precisa de amor


E como é difícil amar o Stitch, quem assistiu ao filme sabe. Eu adoro esse filme, entre outras coisas, porque ele fala de amor. E é muito fácil amar quem é comportado, quem não dá trabalho. Difícil é amar quem precisa ser educado, quem não sabe explicar suas dores, quem cria mil situações difíceis porque não sabe o que sente. Quem nos testa até ao limite. E quando a gente vira adulto esquece que ainda nos sentimos assim muitas vezes. Nos comportamos de maneira estranha porque não conseguimos elaborar o que sentimos. Imagina uma criança que está aqui no mundo a pouco tempo. Não deve ser fácil ser criança e não conseguir comunicar uma dor, pedir ajuda. E tenho aprendido que quem mais precisa de mim, por não saber fazer diferente, me acusa de coisas tão ridículas que soam engraçadas de tão absurdas. 

E quem está precisando aprender sou eu. Porque tão difícil quanto educar é aprender. E hoje eu entendo melhor o amor. Amar quem me agride pressupõe a aceitação da dor alheia e perceber que não é pessoal. Talvez, por ser eu uma das pessoas que ela mais confia, é em mim que ela descarrega seus sentimentos confusos....

E já tinha esquecido que da mesma forma que a sociedade cria o mito do príncipe encantado, há o mito do filho perfeito, o bebê Johnsons. Quando os filhos são bebês temos a ilusão que eles são crianças de comercial e o meu filho nunca será nem de longe parecido com aquela criança birrenta no supermercado. Os filhos são bem mais parecidos com o Stitch, com variações ao longo do tempo, dos meses, dos dias e até das horas. E eu acho que hoje eu estou muito a Lilo e a Sofia, o Stitch. E o maior desafio é entender que mesmo sendo tão difícil esse é o maior e mais profundo amor. E tudo é uma fase que vai passar se limites forem impostos - como a Lilo queria educar o Stitch.