9.6.11

Elogio do Esquecimento

Eu li esse poema quando a Sofia ainda era pequenininha e fez tanto sentido na época. E faz cada vez mais sentido. Levei para os meus pupilos e eles gostaram também. A memória, o esquecimento, o passar do tempo e a reconstrução das memórias, as reminiscências.....dá um papo longo.....

Bom é o esquecimento!
Senão como se afastaria o filho
da mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros
e o impede de experimentá-la.

Ou como deixaria o aluno
o professor que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
o aluno tem de se pôr a caminho.

Para a velha casa
mudam-se os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá vivessem
a casa seria pequena demais.

O forno esquenta. Já não se sabe
quem foi o oleiro. O plantador
não reconhece o pão.

Como se levantaria pela manhã o homem
sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
aquele derrubado seis vezes
para lavrar o chão pedregoso, voar
o céu perigoso?

A fraqueza da memória
dá força ao homem.


Bertolt Brecht

6.6.11

Sentimentos enrolados

Assisti com a Sofia ao filme "Enrolados", que é uma adaptação da história da Rapunzel. No filme, os conflitos psicológicos da Rapunzel ficam mais explícitos que na história original. A cena que eu mais gostei foi quando ela foge da torre e começa um conflito interno entre continuar a jornada ou voltar para a torre, então ela oscila entre comportamentos extremamente felizes, gritos, euforia e momentos de depressão em que ela para e diz "eu sou uma péssima filha, sou um ser humanao terrível, acho que vou voltar". E o rapaz que a acompanhava na fuga diz pra ela que ela precisava decepcionar a mãe pra continuar vivendo. Diz que os filhos precisam de aventura, que isso é normal. E propõe que ela volte, então, e fiquei com uma ótima relação com a mãe, baseada em confiança. Apesar do medo dela, resolve continuar a aventura. Achei demais. Essa cena foi muito verdadeira. O medo que os filhos têm de decepcionar aos pais e como isso é inevitável no processo de crescimento de todo indivíduo. Há inúmeras histórias infantis em que a mãe da criança morre e só depois tudo acontece com ela. É uma metáfora para o fato de que toda mãe boazinha demais tem que morrer para o filho crescer. E essa morte não tem que ser literal, apenas simbólica. Proteção em excesso cria pessoas frágeis demais. A mãe precisa se afastar e permitir que o filho viva e erre, caso contrário, estará fazendo um desserviço à evolução da pobre criatura. Enrolados foi uma surpresa agradável.














4.6.11

Amor e Outras Drogas

Assisti ao filme "Amor e outras drogas" e gostei muito do que vi. O filme fala de algumas questões como o mal de Parkinson, das empresas farmacêuticas que criam mecanismos para os médicos prescreverem seus medicamentos, a despeito de serem ou não os mais indicados. Ao mesmo tempo, fala das relações pretensamente descompromissadas, ou da duração que uma relação consegue ser descompromissada.... os vínculos acabam aparecendo, são inevitáveis. É só uma questão de tempo.  E aparecem por diferentes motivos. As relações viciam e, como em qualquer vício, sempre há partes boas e ruins. É preciso pesar sempre e avaliar quando as coisas ruins pesam mais que as boas.  Se a balança pender para o lado negativo do vício é hora de parar. O mais difícil é que mesmo quando a avaliação é que precisamos parar com a dependência, sentimos falta dela, dos prazeres que proporcionava. E isso gera culpa.  Ninguém fica dependente de algo exclusivamente ruim. Tudo tem dois lados. Ora o prazer é maior, ora o sofrimento é maior. Cabe a cada um avaliar o que sente e botar um ponto final no sofrimento. Mas se o dano for leve, se os ganhos forem maiores que as perdas, aí é melhor continuar viciado!  O filme é engraçado, trata com leveza e sinceridade as questões a que propõe. Não indicado para menores de 16 anos!!!  ;)