5.9.11

Mãe boazinha demais x Mãe malvada demais

O filme "Enrolados" mostra a mãe que escondeu a Rapunzel na torre como uma mulher completamente má. Ela fez apenas mal à filha por egoísmo,  e em nenhum momento percebemos qualquer ponta de bondade nela. Já a verdadeira mãe, a rainha, era um ser superior, sem erros, apresentada com o máximo de bondade. Nela não há defeitos. Esse é o problema. Durante um bom tempo, sofri por achar que não era uma mãe tão boa assim pra minha filha. E isso só aparecia quando eu fazia algo por que me arrependia depois. Um momento de raiva, uma explosão após inúmeras provocações pueris. E logo após meu furor, sentia uma culpa gigantesca por ter perdido a cabeça, por achar que um momento poderia definir um futuro. Achava, lá no fundo, mesmo sem ter consciência disso, que eu precisava ser como a mãe verdadeira da Rapunzel e isso trouxe a mim imenso sofrimento e angústia. Por mais que em 90% do tempo eu fosse boa, bastasse um simples erro para eu sentir que tudo estava perdido. Acho que demorou, mas entendi. Os pais não são inteiramente bons nem inteiramente ruins para os filhos. Todos erramos. A maior parte do tempo faço bem à minha filha, mas com certeza farei mal a ela. Isso é inevitável. E quando entendi isso, passei a me culpar menos, passei a ser mais feliz com ela. Enxerguei com mais realidade minhas qualidades e defeitos. E permiti a mim cometer os erros. E a valorizar os acertos. Sempre fui muito exigente comigo, mas estou aprendendo a não ser tanto. É um grande desafio, mas quero ser melhor comigo mesma.
Já disse por aqui que a mãe boazinha demais precisa morrer. Isso eu li no livro "Mulheres que correm com os lobos". Esse tipo de mãe não faz bem ao filho ao ser interiamente boa, porque isso é uma mentira e o filho jamais vai encontrar alguém no mundo que seja inteiramente bom; e esse fato gerará uma frustração grande e uma dificuldade em aceitar essa limitação nos outros com quem se relacionar. Em muitas histórias de contos de fadas, após a morte da mãe, o filho enfrenta inúmeras dificuldades e tem que resolver sozinho seus problemas. Só aí é que cresce verdadeiramente. A mãe equilibrada não resolve tudo para o filho, mas dá condições para ele ser autônomo.

O filho deve enxergar que os pais têm defeitos, que apesar do amor maior do mundo, esse amor é humano, por isso, cheio de incoerências, defeitos, erros, mas ainda é amor e é o maior do mundo. A Sofia já sabe que príncipes encantados só existem nos livros. E está aprendendo que a mãe dela também não é aquela mãe perfeita dos livros e também não é a bruxa má. E eu estou aprendendo isso a meu respeito. Digamos que sou uma mistura das duas figuras. O bom é que essa mistura tem uma proporção muito maior de bondade do que de erros. As pessoas são imperfeitas. O bom é que me cuido para o mal não imperar e sim pra ter muito mais coisas boas do que más. Às vezes preciso ser má, às vezes preciso ser boa. Isso fará com que ela seja mais equilibrada quando crescer, sem falsas ideias sobre mim e o mundo.